
O programa Vira Vida, voltado para o resgate de valores e fortalecimento da família de jovens que vivem em comunidade de baixa renda, formará na próxima sexta-feira (26) a sua 6ª turma no Amazonas, com 94 jovens formandos. A cerimônia será realizada, às 15h, no auditório Gilberto Mendes de Azevedo, do Serviço Social da Indústria, o SESI Amazonas (Avenida Joaquim Nabuco, 1919, Centro).
A turma formada, em maioria, por jovens em situação de vulnerabilidade social, teve ontem a sua “Aula da Saudade”, na Escola SESI Dra. Émina Barbosa Mustafa, para marcar um ciclo de seis meses de cursos profissionalizantes, desenvolvidos com a perspectiva de alinhar o perfil e as expectativas dos jovens às demandas do mundo do trabalho.
De acordo com a psicóloga, Tharzia Ferreira, o Vira Vida passou por mudanças nos dois últimos anos no Amazonas para ampliar o leque de atendimentos, antes direcionado apenas ao resgate de jovens vítimas de abuso e exploração sexuais. Atualmente, o programa Vida recebe jovens de baixa renda.
“Cerca de 90% dos nossos jovens estão dentro do perfil de vulnerabilidade social, jovens de extrema pobreza, que não têm condições de pagar cursos voltados para o mercado de trabalho, além de sofrerem violência doméstica, por pais em desestruturação familiar”, frisa a psicóloga.

Aproximadamente 400 jovens já foram atendidos pelo Programa Vira Vida, no SESI no Amazonas, de 2012 a 2018, como é o caso do aluno egresso da turma 5, Carlos*, de 21 anos, que teve a oportunidade de enriquecer o curriculum com cursos de aprendizagem industrial do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI Amazonas), que lhe abriram as portas para o trabalho como Jovem Aprendiz, na função de Auxiliar de Logística, em uma empresa de médio porte do ramo automotivo em Manaus.
Carlos já buscava seu sustento na adolescência. “Trabalhei por sete anos com malabarismo no sinal. Era um dinheiro bom, muito mais do que ganho no meu emprego atual, mas não me dava conhecimento e nem experiência. Não trocaria meu trabalho para voltar a trabalhar na rua, pois a única experiência que ganhava era a de ficar na rua, viver na rua e a viver da rua e, no trabalho que tenho hoje, só tenho a ganhar experiências que agregarão valor para o meu futuro. Na rua ganhamos muito, mas também nos perdemos”, disse o estudante.
De acordo com Carlos, o emprego conquistado por meio de processo seletivo foi só o primeiro passo para almejar outros sonhos como, por exemplo, ser odontólogo ou, quem sabe, psicólogo, profissão que aprendeu a dar valor ao participar do Vira Vida. Para ele, o acompanhamento com a psicóloga foi de grande importância para sua mudança de vida.
“Eu era totalmente fechado, não conversava nem com a minha mãe, tanto que ela só descobriu que eu trabalhava com malabarismo na rua quando fui levado para casa pelo Conselho Tutelar. Após o Vira Vida passei a contar mais sobre o que sentia para a minha mãe, o que me faz uma pessoa melhor”, disse o jovem.

Outra experiência exposta aos novos formandos foi a da também aluna egressa da turma 5, Jessica*, de 20 anos, que hoje realiza o sonho de estudar na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), na área de Ciências Biológicas, em Licenciatura em Educação Física, curso que vai concluir em 2020, com o empurrãozinho da equipe do programa Vira Vida.
“O Vira Vida me ajudou muito para essa aprovação, estudei durante toda a tarde na biblioteca da instituição, fiz um plano de estudo com duração de seis meses, além de contar com a ajuda da professora de Língua Portuguesa, Eline (Silva). Sabia que minha mãe não teria dinheiro para pagar um cursinho e precisava passar na faculdade pública, pois não queria estudar em uma particular, meu sonho era estudar na Ufam, sempre achei lindo aquele nome, aquele lugar. Hoje estou realizada, aprendendo a trabalhar sempre a minha autoconfiança, ponto chave trabalhado pela psicologia do Vira Vida”, disse Jessica.
A experiência vivida no Vira Vida fez com que Jessica se destacasse na faculdade, onde conseguiu uma vaga de bolsista remunerada como professora no Programa de Atividades Motoras para Deficientes (Proamde), programa de extensão da UFAM, que atende crianças de 2 a 65 anos de idade com todos os tipos de deficiência. Jessica trabalha com crianças com transtorno do espectro autista.
