O custo de um laboratório de nanobiotecnologia para o desenvolvimento não-predatório da Amazônia é nada mais que uma decisão política. Ou seja, um grito do protagonismo regional. Por Nelson Azevedo** Enquanto as batatas se ajeitam no sacolejo da charrete da democracia, é preciso ir em frente para não atrasar a movimentação em curso. Algumas frentes do desenvolvimento regional, apesar ou por causa da dimensão política, estão rodando, outras nem tanto. Até quando vamos arranjar desculpas para não cortar os elos umbilicais com Brasília? Quando iremos assumir de verdade a maturidade administrativa da expansão gerencial de nossa economia à revelia das imposições do governo central? Os governos veem e vão. Mas nossa economia não está atrelada a gestões circunstanciais.
O movimento da roda da economia local, exatamente por essas razões, não pode parar. Mas também já não pode ficar rodando sobre o próprio eixo. Essa tem sido nossa toada cantada em prosa e verso há mais de meio século de acertos, ajustes e ameaças do programa Zona Franca de Manaus. Entretanto, somos bastante crescidinhos para caminhar com os próprios pés de nossa autodeterminação. Ou ainda não? Maturidade do CAS Entre os indicadores do amadurecimento da gestão regional estão os avanços do CAS – Conselho de Administração da Suframa, seus atalhos na direção da autonomia econômica e administrativa e seus ensaios proveitosos não direção da profissionalização. Sua equipe como um tido tem dado mostras de prontidão para levar adiante e para o alto o desempenho satisfatório de sua missão de reduzir as desigualdades espúrias entre o Norte e o Sul do Brasil.
Ou seja, a razão de nossa existência como economia fundada na contrapartida fiscal do IPI, Imposto sobre Produtos Industrializados, tem sido levada a contento e muito mais poderia avançar se pudéssemos aplicar na diversificação e no adensamento da base industrial instalada em Manaus. Economia da biodiversidade Há mais de 30 anos, pressionados pelos imperativos ambientais da Conferência Rio-92, da ONU, sobre desenvolvimento e meio ambiente, passamos a buscar paradigmas e recursos financeiros e tecnológicos para diversificar a ZFM na direção da diversificação biotecnológica.
E isso amadureceu. Criamos o Programa de Biologia Molecular e adquirimos, com recursos das empresas do Polo Industrial de Manaus, oriundos das taxas recolhidas aos cofres da Suframa, mais de 20 laboratórios para adensamento dos polos industriais instalados no coração da Amazônia. Assim, foi criado o Centro de Biotecnologia do Amazonas, cuja pedra fundamental foi assentada na virada do Século XXI. Somente 22 anos depois foi criado o modelo de gestão do CBA, hoje denominado Centro de Bionegócios da Amazônia, uma OS, uma Organização Social com edital publicado, disputado e selecionado.
Quanto custa um laboratório de bioeconomia? Alguém poderia perguntar na hora de planejar o pleno uso do aparato laboratorial: por que não compraram o laboratório de nanobiotecnologia? E quem poderia ter pago essa fatura? É pra isso que foi criada a OS? Como fazer biotecnologia sem o laboratório de nanotecnologia? Nenhuma dessas perguntas devem ser respondidas em termos monetários. Afinal, é preciso saber – antes de mais nada – em que contexto ela se justifica e para quais propósitos ela se direciona? E mais: o que poderá ser feito com o tal laboratório e quais as contrapartidas que o patrocinador/ investidor obteria com essa empreitada? Por fim, restaria mais uma questão: o que tem a ver este laboratório com o desenvolvimento sustentável da Amazônia? Decisão política e protagonista O custo de um laboratório de nanobiotecnologia para o desenvolvimento não- -predatório da Amazônia é nada mais que uma decisão política. Ou seja, um grito do protagonismo regional. Por isso é que – no primeiro momento – não se trata de monetização tecnológica.
É uma decisão política no sentido das escolhas locais a serem feitas para planejar as cadeias produtivas e sua interlocução com as respectivas cadeias de conhecimento, gestão territorial, oferta, coleta e ordenamento dos insumos necessários e os resultados esperados, com suas respectivas métricas, taxas de retorno, pegada de carbono e respectivas compensações. Seria esta uma das direções da diversificação, adensamento e interiorização do desenvolvimento? Que tal juntar a tribo para começar por em debate a estrutura e o funcionamento dessas pautas? **Nelson é economista, empresário e presidente do Sindicato da Indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, Conselheiro do CIEAM e vice- -presidente da FIEAM.
Nelson Azevedo
Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, Conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.