Manaus, 18 de janeiro de 2021
Reputo de grande importância para o Brasil, para o Amazonas e para toda a região da Amazônia Ocidental, a pesquisa do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), divulgada semana passada, que relaciona confiança das pessoas, ou a falta dela, para com outras pessoas e para com as instituições governamentais e privadas. Sua influência em questões que envolvem desenvolvimento econômico, políticas públicas e cidadania.
À primeira vista, o tema parece não ter relação com economia, mas ao analisarmos mostra sua influência no desempenho industrial e socioeconômico de todo o país. O relatório do estudo conclui que confiança significa menos burocracia e mostra a correlação entre a confiança ou desconfiança, com diversos indicadores socioeconômicos e o quanto é afetada a democracia, o quanto influencia no crescimento econômico, na produtividade e na inovação.
Associa a menor confiança a democracias frágeis, com menos inovação e disposição a riscos, menor receita tributária, mais informalidade no trabalho, mais regulações onerosas, menos disposição a sacrifícios com relação à mudança climática e menor demanda por bens e investimentos públicos.
Associa a maior confiança a democracias mais fortes, mais empreendedorismo e inovação, mais disposição a crescer e contratar trabalhadores, a empresas mais produtivas que participam de cadeias de abastecimento globais, maior receita tributária, mais inclusão financeira, menos regulação e menos barreiras, mais concorrência, mais apoio a políticas que são mais eficazes no combate ao crime, mais disposição a apoiar medidas para combater as mudanças climáticas, mais demanda por bens públicos, como educação de qualidade e mais disposição para as pessoas participarem de iniciativas coletivas.
A desconfiança impacta a capacidade produtiva de uma empresa, incapacita o Governo de atrair investimentos e arrecadar impostos, além de adotar trâmites burocráticos lentos e caros. 0 combate a esse mal é feito com políticas públicas que fortaleçam as instituições, aumentem a segurança jurídica e sejam transparentes.
O estudo propõe três eixos de atuação para restaurar a confiança: redução da desigualdade de poder, tornando o sistema judiciário mais ágil e previsível; aumento da transparência com a divulgação mais clara das decisões dos agentes públicos e que assumam suas responsabilidades; e, integração da questão de confiança nas ações de cidadania.
Aumentar a confiança como um todo significaria mais integralização regional, cadeias de abastecimento ajustadas e maior produtividade das empresas.
A propósito de confiança, lembro-me do nosso poeta Thiago de Mello, falecido na última sexta feira, que fala em seu poema “Os Estatutos do homem”: “Artigo IV -Fica decretado que o homem não precisará nunca mais duvidar do homem. Que o homem confiará no homem como a palmeira confia no vento, como o vento confia no ar, como o ar confia no campo azul do céu. Parágrafo único: O homem confiará no homem como um menino confia em outro menino”.